Não sei se sou só eu,
mas às vezes acho a vida algo muito instável. Dúvidas demais, medos de tomar
decisões, de seguir em frente, faltam garantias. É isso! Faltam as garantias
para me dar a segurança que preciso. Mas nessa vida, quem as tem? Alguém? Taí
um artigo de luxo pelo qual eu acho que pagaria caro... A gente reclama da dor,
mas um mundo cheio das garantias que eu e tantos outros buscam sem sucesso
talvez seja um lugar enfadonho de se estar...
Faço aí um resumo da
minha vida inteira de elaborações obsessivas: será? pra cá, será? pra lá,
um salto para tentar espiar o futuro, alguns passos de recuo: medo, bravura,
enfrentamentos... Perdoem-me aqueles que gostariam que eu tratasse dos detalhes
do que se passa aqui dentro, mas acho que já me aprofundei demais nessas
deambulações. Melhor deixarmos minha vida pessoal de lado um pouquinho...
Então me ocorre a
pergunta: quem disse que a nossa vida profissional não é nossa vida pessoal?
“Não misture pessoal com profissional”, dizem os sábios sem rosto que ecoam
pelos caminhos da vida. Eu particularmente conheci meus melhores amigos no
âmbito profissional, e encontrei minhas maiores crises pessoais lá também. Os
encontros cotidianos com aquelas pessoas e com aqueles problemas, o encontro
com nossas limitações pessoais e com alguns fantasmas também...
Em um certo ponto, eu quis
abandonar a psicologia. Aquele lugar de receptáculo para toda a dor do mundo
uma hora exaure a gente, especialmente quando a gente insiste em querer
acreditar que é possível mudar o mundo. Mas pera lá! Transformar ainda é
possível, só não dá pra querer tornar água em vinho do dia pra noite, pensa a
Poliana... De verdade, aos poucos a gente aprende a assumir um risco aqui e
outro acolá, a mexer um pauzinho aqui, outro ali... e as coisas vão
acontecendo. Assim também deve ser na vida, como se isso aqui não se tratasse
de tantas vidas e da nossa.
Pois bem, eu dizia que
pensei em abandonar a psicologia. Cheguei a enveredar por outros caminhos – que
também fizeram muito sentido pra mim – mas recuei ali também. O que eu buscava
na psicologia que ela não estava me dando? O que ela me oferecia e eu não
estava aceitando? O que eu buscava alhures? Descoberta ou fuga?
Nunca vou saber o que
teria sido de mim se tivesse seguido o outro caminho. As escolhas não são
feitas disso? De uma outra diversidade de possibilidades que ficam pra trás?
Tornar-se psicóloga é
um processo doloroso, pelo menos tem sido pra mim. Mas qual a vida, dentre as
que fazem algum sentido, que não encontra dor pelo seu caminho? Colocar-se em
análise, enfrentar o lugar onde nos colocam, encarar os lugares que impomos aos
outros, ouvir as dores e os apelos do mundo, sabendo, tantas vezes, que o
melhor que se faz é não fazer/dizer nada.
Acho que isso é o mais
duro aprendizado que a psicologia me deu sobre a vida: manejar e não mais
tentar controlar.
Você deve estar
pensando que se poderia aprender isso “na fila do cinema ou numa mesa de bar” e
talvez você tenha razão. Na minha existência, entretanto, aprendi tudo isso
sendo “psicóliga”... ou pelo menos acho que estou aprendendo.