domingo, 27 de agosto de 2017

Pelo dia do psicólogo

Sempre fui pouco afeita ao compartilhamento de homenagens, no dia dos pais, das mães, dos avós, dos namorados, e de tantas outras datas comemorativas que temos hoje. A despeito disso, sempre compreendi a importância política de se levantar um monumento tanto do que representa a dor que nunca mais queremos voltar a sentir (no caso de datas como o dia da mulher, instaurada no aniversário da dor de tantas mulheres em luta por direitos os quais hoje gozamos) quanto de instaurar uma data para lembrar daqueles que, dignos de respeito hodiernamente, devem receber as homenagens devidas em face de um dia que lhes represente a luta e a tarefa cotidiana.
Isto posto - e sendo esse um blog sobre a escuta e a leitura de mundo de uma psicóloga diante das histórias e das vidas que lhe atravessam a própria vida - achei importante marcar a data e nos parabenizar, psicólogos, pelo nosso dia. 
A nossa luta, por valorização e respeito a uma profissão ainda tão controversa em entendimentos fantasiosos e preconceituosos, está muitas vezes imersa em práticas incompreendidas, dado seu poder de produzir transformações a partir da mediação da palavra que sai pela fala, pelo silêncio, pelos comportamentos e que se exala através do corpo.
Quem é psicólogo, como eu, deve ter recebido hoje dezenas de mensagens, algumas que reiteram esses sentidos dos quais muitos queremos nos livrar e outras que falam a nós e nos emocionam. Copio adiante uma destas últimas, atribuída ao psicólogo Alexandre Coimbra Amaral:

Feliz dia dos insensatos, inquietos, angustiados, criativos. Feliz dia dos silenciosos, dos choros contidos, dos olhares secos e nós na garganta. Feliz dia da palavra, do corpo expresso, da vida urgente, da infelicidade que quer arder no passado e deixar de ser presente. Feliz dia das ambivalências, das incoerências, dos encontros com nossos avessos. Feliz dia da conversa estranha que não é conversa de amigo, que é um tipo de amor e que se paga, que transforma e pode libertar. Feliz dia da família, do casal, do grupo, da comunidade, do hospital, da escola, da empresa e de qualquer lugar do mundo. Feliz dia do divã, dos olhos nos olhos, da distância ótima e do abraço necessário. Feliz dia do psicanalista, do behaviorista, do cognitivista, do sistêmico, do humanista, do psicodramatista. Feliz dia daquele que não tem linha, porque não quer se ver amarrado. Feliz dia do segredo ético, da beleza que nasce da confiança e tem na entrega o seu maior legado.

Feliz dia das pessoas que buscam ampliar as perguntas sobre suas existências, e que fazem de todos nós, psicólogos, realizados por podermos continuar existindo. Nosso ofício é uma ação política de empoderamento das vozes que se emudeceram, dos cantos das almas enrouquecidas. A felicidade que precisamos celebrar, hoje, é deste encontro poder acontecer, porque ele é um tanto da beleza existente em nossas vidas.

Aos que insistem em suas perguntas aparentemente sem sentido, meus parabéns. Aos que acolhem as dúvidas de tantos, minhas colegas e meus colegas tão queridos e admiráveis, minha reverência eterna.

Sigamos, todos, na direção da realização daquilo que ainda não pode ser nomeado, expresso, vivido. Juntos, construímos um mundo (infelizmente) (ainda) estranho, de gente diferente que tem todo o direito de existir, ser vista e aplaudida em todas as suas cores.

Feliz Dia do Psicólogo!